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Corpo de Deus

 

Durante séculos foi uma das principais solenidades da Igreja Católica. E ainda hoje é celebrada com muita solenidade, em algumas partes do mundo. Em Portugal o Rei tomava parte com sua côrte e nas vilas e cidades, compareciam na Procissão, as autoridades instituídas e os corpos de milícia. 

Ao narrar, no jornal angrense Peregrino de Lourdes, a instituição da festa de Lourdes na Matriz da Lajes, em 1882, escreve o erudito lajense Dom João Paulino, ao tempo reitor do Seminário de Angra:

A Vila das Lajes, triste e pacata de ordinário, toma durante estes dias um aspecto risonho, alegre e animado. Desacostumada de ver gente de fora tomar parte em suas festas desde o tempo dos capitães - móres, em que a festa anual de Corpus Christi atraía ao  seu recinto, vindos de todo o concelho, uns legendários corpos de milícias armados de chuços e espadas em atitude bélica, - vê-se durante estes dias povoada de estranhos...”

Na realidade  revestia-se de grande luzimento  a festa do Corpo de Deus, pois nela tomavam  parte a Câmara Municipal e todas as corporações  de ofícios com as respectivas bandeiras. Não havia sindicatos, mas somente corporações de pedreiros, alfaiates, carpinteiros e outras. Todas eram obrigadas a tomar parte na Procissão com as respectivas bandeiras, sob pena  de serem multadas pela Câmara. Foi o caso da corporação de pedreiro.

Em decisão da Vereação de 4 de Junho de 1817, “Por não comparecer na saída da Câmara a Vésperas da Festividade do Santíssimo Corpo de Deus, a Bandeira do ofício de Pedreiro, tendo faltado por outras duas vezes, condenaram o Juíz do dito ofício em 400 reis para as despesas do concelho.”

As corporações eram instituições que vinham, naturalmente, dos séculos XIII e XIV, com os mesteres. E até os  que praticavam o mesmo ofício eram obrigados a  morar na mesma rua.  Em Lisboa existem as ruas do Ouro e da Prata, dos Correeiros e dos Sapateiros, dos Fanqueiros, e outras. Por cá ainda temos o Outeiro dos Ferreiros e a rua dos Sapateiros, embora haja outras denominações das quais não se consegue a decifração. Tradições que não morrem, no entanto.               

Quando desapareceram as corporações, em razão do estipulado no decreto de 7 de Maio de 1837, surgiram, nas paróquias, as confrarias ou irmandades, muito embora já existissem na Igreja a partir do início do século dezassete, com os Papas Clemente VIII e Paulo V. Na Matriz das Lajes, até meados do século passado, estavam erectas as irmandades da Misericórdia, do Santíssimo, dos Marítimos, das Almas e, mais tarde, de Lourdes.

Os estatutos da confraria do Santíssimo, foram  aprovados pelo Administrador do Concelho, em 5 de Novembro de 1886, e estipulavam, como fins da associação: “os exercícios e práticas do culto católico para honrar e louvar o Augustíssimo Sacramento da Eucaristia e concorrer com as despesas necessárias para sustentação da lâmpada, para o esplendor das festividades respectivas e para outros encargos da confraria.”

Em 1900, a pauta ou quota era de 400 reis. Outros tempos, dirão!

Não vêm para aqui as razões diversas que levaram  as  confrarias a deixarem de existir na Matriz das Lajes. Actualmente, só funciona a Irmandade da Misericórdia, à margem da paróquia, com autonomia administrativa e financeira e sem qualquer relacionamento com a Igreja, muito embora os actuais estatutos hajam sido aprovados pelo Prelado diocesano.

Apesar de todas as vicissitudes a Festa do Corpo de Deus sempre se realizou na Matriz da Santíssima Trindade das Lajes do Pico, com procissão pelas ruas principais que eram atapetadas de flores e verduras e, nas janelas, expostas colgaduras. Tratava-se de dia santo de guarda e feriado nacional.  Agora, com o rumo da política actual, que extingue o feriado, nem sei o que nos espera.  

Com o país paganizado em que vivemos, em que a Igreja não passa de uma instituição particular, o que vai acontecer nesta Nação que outrora era conhecida por Terra de Santa Maria?

A Nação Portuguesa vive, na realidade, um dos períodos mais atribulados da sua história.  A crise, mais do que económica, é social, moral familiar e religiosa. E não preciso de entrar no pormenor das explicação. Todos conhecem e muitos sofrem as angustiosas situações que daí derivam.

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